História

O CLUBE DE REGATAS BRASIL é um dos clubes que leva mais torcedores para os estádios. Um torcedor alegre, ansioso por grandes emoções e bons espetáculos.  No ano de 1911, fundou-se em Maceio, o Clube Alagoano de Regatas. Uma agremiação cheia das melhores intenções, mas totalmente vazia de meios para cumprir o seu destino. A jóia era de mil réis e a mensalidade de quinhetos mil réis. Sua sede ficava situada na Rua do Comércio, 138. Apesar de se chamar Clube Alagoano de Regatas, não haviam yoles, nem baleeiras, nem remadores. Possuía um punhado de bravos rapazes que desejavam criar um clube esportivo em Alagoas. Entretanto, o novo clube não podia ir a frente, face a pequena receita com jóias e mensalidades. Entre os seus fundadores estavam os jovens Lafaiete Pacheco, Antônio Bessa, Celso Coelho e Alexandre Nobre. O primeiro, procurou junto aos companheiros um aumento nas mensalidades, mas a idéia não foi aceita pela maioria. Desse mal entendido, nasceu o CLUBE DE REGATAS BRASIL.

    E foi Lafaiete Pacheco quem procurou Antônio Vianna e explicou sua idéia de criar um clube de regatas na Pajuçara. Aceita a idéia, foram convidados outros sete rapazes para fundar um novo clube em Alagoas. Na Rua Jasmim, na Pajuçara, no dia 20 de Setembro de 1912, foi fundado o CLUBE DE REGATAS BRASIL. Além de Lafaite Pacheco e Antônio Vianna, assinaram a ata de fundação os seguintes desportistas: João Luiz Albuquerque, Waldomiro, Pedro Cláudio Duarte, Tenente Julião, Agostinho Monteiro, Francisco Azevedo Bahia e João Viana de Souza. Os primeiros passos do clube foram dados na regata. Assim, através de Lafaiete Pacheco o CRB comprou, em Santos, sua primeira yole. Duzentos mil réis foi o valor da yole. Os sócios contribuíram com 100 mil réis e os outros 100 foram tomados emprestados. O dinheiro foi remetido através do Banco de Pernambuco e a yole chegou no navio Itapetinga. A primeira garagem foi no quintal da casa de Antônio Vianna, um dos fundadores.

    A chegada da yole foi uma festa. Era um barco bonito, moderno, um oito remos com patrão. Os treinos começaram e como existiam somente oito remadores, Lafaiete Pacheco solicitou do Tenente Julião um marinheiro para completar a tripulação da yole. Os treinamentos foram realizados no trajeto marítimo da Ponta Verde para Pajuçara. A compra do oito com patrão sensibilizou os desportistas maceioenses e logo conseguiram novos associados como Domingos Souza, Francisco Quintela, Pedro Lima, Homero Viegas, Eduardo Silveira e mais alguns, que aos poucos, foram formando a grandeza do clube. Os dirigentes do Clube de Regatas Brasil tinham mais um problema: conseguir um local para a construção de uma garagem. O terreno foi logo encontrado. O mesmo onde hoje se situa a sede social do clube. O dono do terreno era Domingos Melo, que a princípio se negava a cedê-los ao clube. Várias tentativas para tentar convencer Domingos Melo foram feitas sem nenhum resultado prático. Até que Lafaiete Pacheco, com sua habilidade, conseguiu convencer o proprietário do terreno, assinando um contrato no qual o Clube de Regatas Brasil seria obrigado a liberar o terreno caso Domingos Melo assim desejasse vendê-lo. O terreno era aberto e foi necessário que novamente os fundadores do clube conseguissem dinheiro para comprar tábuas, cujo gasto foi de 3 mil réis. Assim, o terreno estava fechado e quardava a yole oito remos com patrão, que mais tarde se juntaria a outros barcos.


Estádio da Pajuçara

    O Estádio da Pajuçara surgiu na história do Clube de Regatas Brasil de maneira interessante. Quando os irmãos Godim mais Lauro Bahia, José Leite, Abelardo Duarte e outros ingressaram no clube da pajuçara, começou a aparecer o futebol. E tudo iniciou com os "rachas" no meio das ruas da Pajuçara. Como muitas vidraças foram quebradas, a turma sentiu a necessidade de se encontrar um local onde o Clube de Regatas Brasil pudesse jogar futebol, um esporte que começava a mexer com os rapazes alvi-rubros. O local escolhido é o mesmo onde hoje se encontra o Estádio Severiano Gomes Filho, o Estádio da Pajuçara. O terreno pertencia à Dona Maria Torres, que arrendou o terreno para o clube por 300 mil réis. Foi preciso muito trabalho para se nivelar o terreno que era cheio de altos e baixos. Mas, todos estavam entusiasmados com o futebol e, aos domingos e feriados, dirigentes junto aos seus atletas, familiares e mais simpatizantes trabalhavam forte para preparar o local para um campo de futebol. Isso aconteceu em 1916. Um ano depois, na gestão de Pedro Lima, começaram as obras para a construção de um Estádio verdadeiro. Antes era somente o campo de futebol.

    Na época, havia chegado da Inglaterra, Haroldo Zagalo, pai do famoso Mário Jorge Lobo Zagalo ex-jogador e técnico da seleção brasileira. Ele era considerado um "cobra" e, entusiasmado com o trabalho dos rapazes do Clube de Regatas Brasil, começou a passar seus conhecimentos para os atletas alvi-rubros. Também estava em Maceió um alemão chamado Peter, que tinha muita habilidade com a bola e, juntando-se à turma melhorou consideravelmente o futebol no clube da Pajuçara. Estava plantada a semente que mais tarde daria bons frutos.

    O primeiro jogo interestadual aconteceu no dia 02 de maio de 1920. O CRB trouxe a Maceió a equipe do Flamengo de Recife. Na época, o rubro-negro pernambucano era uma das melhores equipes daquele estado. Somente no dia 21 de fevereiro de 1921 é que foi lavrada a escritura de aforamento do terreno que até aquela data continuava arrendado. Enquanto isso, os trabalhadores no estádio continuavam. Para alegria de todos, no dia 09 de setembro de 1921, foi inaugurado o primeiro lance de arquibancadas num jogo festivo contra o Centro Sportivo de Peres também de Recife. Na época, as arquibancadas eram de madeira. As grandes arquibancadas de cimento armado somente iniciaram sua construção em 1954. São as mesmas que ainda hoje se encontram no estádio.

    Vitórias trazem alegrias, abraços e prêmios. Derrotas trazem dessabores, apenas isso. A maioria dos torcedores e dos críticos são volúveis e ingratos. Hoje, sucesso e aplausos. Amanhã, apuros e esquecimento. Todos os dramas, os sucessos, as vitórias, as derrotas, os títulos, enfim, tudo que o futebol continua nos oferecendo, o velho e simpático estádio da pajuçara sentiu através dos anos. Quantos jogos sensacionais foram ali realizados? Quantas decisões foram disputadas? Quantas emoções foram vividas?

    Durante o decorrer dos anos, a torcida ficou acostumada aos desconfortos, aos apertos, às dificuldades para se observar um lance de sensação. É nesse momento que todos se levantam e a visão fica prejudicada para muitos. Mas era gostoso torcer na pajuçara. Era bom sentir seus ídolos de perto, conversar com eles. Quarenta ou Cinqüenta anos atrás, nos intervalos dos jogos, os atletas podiam ir às arquibancadas conversar com seus amigos e namoradas. O jogador sentia o calor do torcedor mais de perto. Para xingar, reclamar, aplaudir e incentivar, a galera ficava junto ao alambrado e os jogadores ouviam os palavrões ou o incentivo mais claramente.

    Na Pajuçara os muros eram baixos, havia facilidade para se pular. Muitos, entretanto, preferiam ficar em cima do muro, ou mesmo nos galhos das árvores que ficar perto do campo. E lá, num tremendo esforço para não cair, torciam por seus clubes com o mesmo entusiasmo daqueles que estavam nas arquibancadas. Para conseguir um lugar no muro ou nos galhos das árvores era preciso muita malícia e agilidade.
   
    Um dos dias que o Estádio da Pajuçara mais recebeu público foi quando o Santos de Pelé nos visitou pela primeira vez, em 1965. Já pelas dez da manhã, o estádio começara a receber torcedores. Ninguem queria deixar de ver o Rei do Futebol. Mesmo assim, muita gente ficou de fora. Mas o estádio ficou colorido, cheio de vida, de vibração, de entusiasmo. E todos tinham suas atenções voltadas para o campo de jogo, onde os jogadores corriam para alcançar a bola, giravam no balanço do drible, saltavam para cabecear e os goleiros voavam como pássaros nas bolas altas. Até parecia que todos dançavam ao ritmo dos gritos dos torcedores.

    O Clube de Regatas Brasil comemorou intensamente as conquistas dos títulos de 1964 e 1969 em seu estádio, logo contra seu velho e tradicional rival, o Centro Sportivo Alagoano. Foram conquistas memoráveis com vitórias inesquecíveis. Depois, em 1970, surgiu o colosso do Trapichão. Grande, confortável, cheio de vida. O transporte melhorou, os caronas os mesmos, as emoções e os espetáculos, nada mudou. Apenas o conforto levou novos torcedores para o Trapichão. E o Estádio da Pajuçara foi abandonado. Atualmente ele vem sendo reformado, ganhou a mesma grama do Trapichão, está melhorando suas arquibancadas. Tudo para que não se apague da história do futebol alagoano, um dos seus mais importantes cenários.

Texto de Lauthenay Perdigão